Ficha Técnica
Título: Mulheres - Retratos de respeito, amor-próprio, direitos e dignidade
Autora: Carol Rossetti
Editora: Sextante
Páginas:160
Ano: 2015
Para que essa resenha seja bem entendida, preciso fazer aqui uma introdução sobre minha vida. Eu sou feminista. E sinto o peso dessa palavra cada vez que ela é falada ou escrita, cada vez que sou repreendida por buscar igualdade, por acreditar que o mundo pode ser melhor para nós, mulheres. Eu sinto o peso do patriarcado nas minhas costas, a pressão social que já define minha vida desde o ventre da minha mãe.
Eu sou feminista porque estou cansada desse sistema opressor. Quando um cara estupra uma mina, sempre procuram uma forma de culpabilizá-la. "Também, com esse short curto ela estava pedindo isso". Gente, na boa, quem em sã consciência gostaria de ser estuprada? Estou cansada de ver essa hipersexualização do nosso corpo. Não somos um pedaço de carne, um amontoado de buracos. Somos seres humanas, queremos ser respeitadas. Agora, eu vou deixar de usar short, vou passar calor, porque um babaca não sabe controlar seus próprios hormônios? Mas não mesmo.
Muita gente vê o feminismo com maus olhos e isso realmente me entristece. Principalmente quando são mulheres. Nós não estamos lutando contra vocês, estamos tentando conseguir respeito e direitos para TODAS nós. E sim, existem mulheres que não toleram homens, que são misândricas, mas misandria não mata. Por trás disso tudo, tem alguém que foi ferida durante a vida, que tem todos os motivos do mundo para odiar os homens. Já procurou saber antes? Conheço inúmeros casos. Agora, a misoginia mata. A cada dois minutos, cinco mulheres são agredidas no Brasil. E a cada quatro minutos, uma mulher é estuprada. Enquanto você lê esse texto, mais de dez mulheres foram violentas e nada (ou muito pouco) foi feito para acabar com isso. E isso pode acontecer com quem você menos espera, acredite. Sua amiga de trabalho ou da escola pode ser uma das vitimas. Estão mais próximas do que você imagina. Isso precisa acabar, não nascemos para servir, nascemos para sermos iguais.
A vida da mulher é traçada antes mesmo d'ela nascer. Não use essa roupa, é muito curta". "Você tem que aprender a cozinhar desde pequena". "É sua responsabilidade cuidar da casa/marido/filhos". "Não use muita maquiagem, parece vulgar". "Sem maquiagem, parece mulher relaxada". "Seja magra". "Alise o cabelo". "Não transe, vai ficar mal falada". "Como assim você não quer ter filhos?". Sem contar as inúmeras outras falas que temos que ouvir desde sempre, falas que querem reger nossa vida, mas não vão, não a minha vida. A ditadura da beleza joga na nossa cara o tempo todo que não estamos dentro do padrão estabelecido. Por conta disso, muitas mulheres não são felizes com seu corpo. Você é linda e pode ser quem quiser. Nós podemos escolher, sim, quem queremos ser nesse mundo e não tem homem nenhum, sistema nenhum que vai nos abater. Somos fortes, guerreiras, e juntas já conquistamos inúmeras vitórias, mas ainda não foi o suficiente. A luta continua, cada vez mais árdua, mas não pode parar.
No livro Mulheres, vemos todas as formas de mulheres sendo retratadas. Altas, magras, gordas, baixas, negras, brancas, com filhos, sem filhos, cisgêneras, transgêneras, deficientes, enfim, todas somos representadas. São ilustrações feministas e empoderadoras, que mostram as mulheres com seus medos, com suas lutas diárias e superações. Eu já acompanhava o trabalho da Carol há um bom tempo, conheci suas ilustrações através dos grupos feministas que participo e me apaixonei instantaneamente. Ela toca na minha alma, parece que conhece meus maiores receios, meus maiores complexos e medos. Sim, eu sou feminista, luto contra a ditadura da beleza e contra o patriarcado, mas também sou humana, só que trabalho nisso todos os dias. Busco, na maior parte do tempo, estar bem comigo mesma.
O livro é divido em seis partes, com uma pequena introdução no início de cada capítulo. Vou colocar aqui algumas ilustrações de acordo com o tema. O primeiro é Corpo, que aborda justamente o tabu dos nossos corpos, da nossa aparência física e os complexos.
O segundo tema é Moda, que aborda questões como tatuagem, roupas, maquiagem e por aí vai.
O terceiro tema é Identidade, que aborda sexualidade, gênero,valores e crenças.
O quarto tema é Escolhas, que aborda o fato de que todas nós deveríamos ser livres para fazer nossas próprias escolhas na vida.
O quinto tema é sobre Amores, onde o amor deve ser celebrado em todas as formas.
Por último, e também meu tema preferido: Valentes. Nós passamos por coisas ruins, mas sobrevivemos e hoje lutamos contra isso. Eu sei que tem dias que parecem horríveis, que o sofrimento não vai acabar, o medo toma conta. Mas vai passar. Não deixe que te diminuam. Não deixe de procurar ajuda, não sofra em silêncio, não deixe que ninguém toque em você sem seu consentimento. E se acontecer, denuncie, para que esses monstros não mexam com mais nenhuma mulher. Nós somos Valentes.
As ilustrações da Carol foram adaptadas para diversos idiomas e hoje ela é reconhecida mundialmente. Sobre a edição do livro, está perfeita. A diagramação está impecável, não encontrei erros gramaticais. As páginas que contém texto são brancas, mas como são poucos parágrafos, não tive problema na hora de realizar a leitura. Quando esse livro chegou (ontem), eu devorei e depois fiquei com aquela sensação de "quero mais". Pessoal da Sextante, acho que rola uma parte 2 hein? haha. Enquanto eu lia, sentia vontade de me casar com esse livro, sério. Ele me entende completamente e isso me deixou fascinada. A Sextante está de parabéns por esse lançamento incrível.
E com isso tudo que disse, não estou pedindo para você ter o mesmo pensamento que eu, até porque não sou mais o tipo de pessoa que tenta impor o feminismo. Mas eu peço, por favor, que você leia mais antes de repreender esse movimento que tanto ajuda e apoia as mulheres. Estou à disposição para quem quiser conversar mais sobre :)
Aproveitando, vou deixar aqui um poema que fiz esses dias, onde expresso os motivos da minha luta e do feminismo. Ah, só mais uma coisa: por favor, não nos chame de feminazi. Não somos nazistas, não matamos ninguém para defender nossa causa, pelo contrário, somos mortas por causa dela.
Eu queria poder te salvar
queria poder te proteger
dizer que as coisas vão melhorar
e nada disso vai mais acontecer
mas não é assim
ainda nessa sociedade
temos que tolerar a maldita desigualdade
que deixa impune quem nos toca sem permissão
nem ao menos fazem sermão
dizem que em briga de marido e mulher não mete a colher
isso é besteira, mesmo se tivessem o poder
nada iriam fazer
porque no fim das contas, pra que existimos?
casar, procriar, limpar
então não, vocês não vão me amarrar
eu vou lutar
eu e minhas manas
um dia, essa vida vai melhorar
eu não terei mais que aturar
e teremos o respeito que tanto merecemos
mas até lá, vocês vão ter que aguentar
porque não vou me calar
a luta continua até eu parar de respirar.
Eu queria poder te salvar
queria poder te proteger
dizer que as coisas vão melhorar
e nada disso vai mais acontecer
mas não é assim
ainda nessa sociedade
temos que tolerar a maldita desigualdade
que deixa impune quem nos toca sem permissão
nem ao menos fazem sermão
dizem que em briga de marido e mulher não mete a colher
isso é besteira, mesmo se tivessem o poder
nada iriam fazer
porque no fim das contas, pra que existimos?
casar, procriar, limpar
então não, vocês não vão me amarrar
eu vou lutar
eu e minhas manas
um dia, essa vida vai melhorar
eu não terei mais que aturar
e teremos o respeito que tanto merecemos
mas até lá, vocês vão ter que aguentar
porque não vou me calar
a luta continua até eu parar de respirar.